Saturday, May 24, 2014

A EVOLUÇÃO DO ENSINO NO BRASIL




Daqui a pouco serão divulgados os números finais dos inscritos no Exame Nacional de Ensino Médio, o Enem.
E devem ficar em torno de 9,5 milhões.
Um milhão e setecentos mil acima das inscrições do ano passado.
Mais de seis vezes o número de pessoas que se inscreveram há exatos 10 anos.
Não é, obvio, o crescimento do número de jovens, nem mesmo o de concluintes do ensino médio – cerca de 2 milhões por ano – que explica tamanho salto.
Os  fatores são outros.
O primeiro deles, o desejo e a possibilidade de fazer um curso superior para qualificar-se ou requalificar-se profissionalmente.
Possibilidade porque o Brasil superou, em 2012, a  marca de 7 milhões de matriculados em faculdades: 7.037.688, segundo o Censo Escolar do MEC.
Número que, hoje, deve andar perto de 8 milhões, o dobro dos 3,9 milhões de 2003.
São  quase 3 milhões de ingressantes/ano.
Parece muito?
É muito, mas também é pouco, embora seja imensamente mais do que há alguns anos.
Porque o déficit de escolarização superior no Brasil era imenso.
O número de vagas de ingresso nas universidades federais, entre 2002 e 2012 cresceu 124%, uma pena que não se tenha tido o mesmo desempenho nas universidades estaduais que, em 2002, equivaliam à quantidade de ingressantes às federais e, agora, representam apenas a metade. O número de ingressos, nelas cresceu apenas 2,4% em uma década.
No gráfico que reproduzo lá em cima, fica evidente que, apesar dos números fantásticos do Enem, ainda há uma imensa jornada até darmos uma escolarização compatível com os direitos do nosso povo.
E os “analistas”  torcem o nariz para nossos índices de desemprego baixos, alegando que muita gente não está procurando emprego.
Uma parcela deles está lá, nas listas do Enem, já que agora sua estrutura familiar pode “segurar” mais anos de escola e maiores pretensões educacionais.
O país dos bacharéis é como a ilusória “saúde exemplar” dos anos 50, algo de que se tem saudade sem perceber a perversidade que se fazia a milhares de jovens precocemente lançados ao mercado de trabalho.
É apenas uma percepção formada no pequeno mundo de pessoas que, como eu, têm saudades daquela minha velha e boa e querida escola pública dos anos 60, mas que não conseguem compreender que aquele mundo idílico pertencia a menos de 30% das crianças e jovens em idade escolar daqueles tempos.
Para “o resto”, era a exclusão.
Há uma grande dificuldade da elite brasileira – e não me refiro à econômica – em compreender que já não existe lugar – no Brasil ou em qualquer país do mundo que pretenda o desenvolvimento – para a “Belíndia” descrita pelo economista, hoje tucano, Edmar Bacha, ao dizer que éramos, ao mesmo tempo, uma Bélgica e um Índia.
Talvez sejamos, mesmo, hoje, muito mais uma Índia, que vem se encontrando como sociedade de massas apesar e além da sua estrutura de castas.
Que, no final das contas, habita todos nós.
Inclusive os que ascenderam.
Que, pela falta de discurso ideológico, reproduzem o comportamento dos “de cima”, agora que subiram.
E dizem que tudo é ruim, precário, deficiente.
É.
Não é possível repartir sem reduzir, mesmo que se multiplique ao máximo possível o bolo.
Talvez seja esta a grande dificuldade mental do PT.
Que o faz reduzir  tudo a uma questão de indicadores, de renda e de outros avanços sociais;todos fantásticos, é verdade.
Mas a de cair no discurso do “meu amigo, minha amiga” , da fala ao indivíduo.
Não ajudar a perceber que somos um povo, com interesses, desafios e, também, carências que são de todos.
“Povo brasileiro”, como dizia o velho Briza, ou “meu irmão, minha irmã”, quando queria falar diretamente.
Uma família. Um povo. Um organismo que só se desenvolve pelo coletivo.
E numa família onde não se identifica como tal e não há objetivos de todos,   é inevitável que se forme o pensamento dos filhos pródigos.
A ideia da meritocracia,  necessária, não pode ser a única, nem a dominante.
Porque as classes dominantes, de berço ao capital, sempre justificaram seu domínio por isso, por ter méritos.
Embora raramente tenham tido humanidade.

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