Carlinhos Cachoeira ganhou as manchetes nacionais em 2004 após aparecer em uma gravação com o então presidente da Loterj, Waldomiro Diniz, que pedia propina para facilitar a entrada do empresário no mercado de jogos de azar no Rio de Janeiro. O dinheiro seria para a campanha eleitoral do PT e do PSB. O caso foi o primeiro escândalo de corrupção do governo Lula.

Ricardo Rafael 23-01-2006
Wladmir Garcez
Wladmir Garcez foi vereador em Goiânia pelo PSDB, ocupando a presidência da Câmara Municipal entre 2001 e 2002. Em 2004 ele foi denunciado pelo também vereador Clésio Alves (na época sem partido), o que levou a Polícia Federal a descobrir desvio de R$ 7 milhões em contribuições previdenciárias ao INSS de servidores comissionados do órgão. Outras nove pessoas estavam envolvidas no esquema
O Ministério Público Federal em Goiás (MPF/GO) e a Polícia Federal no Distrito Federal (PF/DF), com auxílio do Escritório de Inteligência da Receita Federal em Brasília, deflagraram uma operação contra a máfia dos caça-níqueis com atuação no Estado de Goiás e mais cinco Estados da Federação. O esquema, que funcionava há mais de 17 anos, segundo a investigação, seria coordenado pelo empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que contaria com a conivência de algumas autoridades da segurança pública. A operação, batizada Monte Carlo, cumpriu oito mandados de prisão preventiva, 27 prisões temporárias, 10 ordens de condução coercitiva e buscas e apreensões em diversas localidades. Cachoeira foi preso em Goiânia e levado a Brasília, junto com toda a cúpula da organização. Após serem ouvidos, os suspeitos serão levados a um presídio federal.
Além de Cachoeira, o empresário e ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia, Wladmir Garcez, também foi preso. Ele prestou depoimento nesta manhã na Polícia Federal em Goiânia. A informação foi confirmada pelo advogado de Garcez, Neiron Cruvinel. Ele afirmou que pedirá a anulação da prisão do empresário. Caso o pedido seja negado, ele deve ser transferido para Brasília.
A investigação durou 15 meses e identificou 44 integrantes infiltrados na área de segurança pública: dois delegados de Polícia Federal de Goiânia, seis delegados da Polícia Civil de Goiás; três tenentes-coronéis, um capitão, um major, dois sargentos, quatro cabos e 18 soldados da Polícia Militar (PM) de Goiás; um auxiliar administrativo da PF em Brasília; um policial rodoviário federal, um agente da polícia civil de Goiás e um agente da polícia civil de Brasília; um sargento da Polícia Militar de Brasília, um servidor da Polícia Civil de Goiás; um servidor da Justiça Estadual de Valparaíso de Goiás.
Cartel
Segundo a PF, a quadrilha contava com operadores diretos de pontos de jogo ilegal em Goiânia e Valparaíso de Goiás. Os “cassinos” funcionavam em galpões, onde as máquinas eram instaladas. As investigações apontam que o esquema funcionava como um cartel e era operado a partir de um centro de comando, localizado em Goiânia e liderado por Carlinhos Cachoeira. Segundo a PF, era ele quem determinava o fechamento e abertura de casas de jogos no território de seu domínio.
Verificou-se também que, por meio dos integrantes da quadrilha infiltrados na polícia, Cachoeira controlaria a abertura de pontos de jogos concorrentes dentro de seu território. Caso alguém ousasse abrir cassinos clandestinos no território dominado pelo grupo, policiais eram demandados a fechar tais casas. Esses policiais também agiam como informantes, passando informações sobre operações realizadas pelos órgãos de segurança pública, dando tempo ao grupo para que as máquinas fossem transferidas.
Segundo os procuradores da República, Daniel de Resende Salgado, Lea Batista de Oliveira e Marcelo Ribeiro de Oliveira, o grupo funcionava como uma empresa, com estrutura organizacional piramidal, onde cada membro tinha funções muito bem definidas. Segundo a PF, o valor das propinas dependia do posto que o membro da organização ocupava e variava de R$ 200 a R$ 4 mil por mês. As investigações apontam também que apenas um dos pontos de jogo tinha rendimento médio mensal de R$ 3 milhões.
Infiltrados
Os procuradores afirmam que a existência da quadrilha por quase duas décadas deu tempo para que ela montasse uma estrutura estável, com larga influência em vários órgãos do Estado. A participação da Polícia Federal do DF é uma prova da influência do grupo sobre o Poder Público no Estado. Os agentes da sede da PF na capital Federal tiveram de ser usados para que servidores infiltrados em Goiás não denunciassem as investigações.
“O recrutamento do braço armado do Estado pelo crime como instrumento de cobertura e proteção ostensiva ou velada dos estabelecimentos de jogos e da prática delitiva controlada por um poder centralizado e hierarquizado, foi capaz de gerar a desarticulação do Estado no enfrentamento à criminalidade. Tornou, em outras palavras, o Estado e a própria sociedade mais vulnerável”, afirma o parecer dos procuradores.

Ex-presidente da Loterj é condenado por suposto pedido de propina

Vídeo mostraria Waldomiro Diniz pedindo dinheiro a Carlinhos Cachoeira.
Procurado pelo G1, advogado de Waldomiro não retornou as ligações.

Waldomiro Diniz (Foto: Arquivo/Paulo de Araújo /AE)  
Waldomiro Diniz (Foto)
A juíza Maria Tereza Donatti, da 29ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, condenou Waldomiro Diniz da Silva, ex-presidente da Loterj, por corrupção passiva e crime contra a Lei de Licitações. Ele foi condenado a 12  anos de reclusão e 3 de detenção. Waldomiro é acusado de pedir propina a Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, em 2002. Na época, Waldomiro era presidente da Loterj e Carlos Augusto era representante do consórcio Combralog. Em 2004, um vídeo com o suposto pedido de propina foi divulgado na imprensa. As informações são do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ).
O G1 entrou em contato com o advogado de Waldomiro, mas ainda não obteve retorno.
Nessa mesma ação, Carlinhos Cachoeira foi condenado a 8 anos de reclusão e 2 anos e 6 meses de detenção, também pelos crimes de corrupção passiva e contra a Lei de Licitações. Carlinhos Cachoeira foi preso em Goiás, na quarta-feira (29), numa operação contra suspeitos de explorar caça-níqueis.
A decisão da juíza é do dia 27 de fevereiro. Segundo a sentença, o regime inicial de cumprimento das penas será fechado, mas Waldomiro poderá apelar em liberdade.
 "Waldomiro Diniz da Silva, na época dos fatos, era presidente da Loterj, cargo que deixou para assumir outro ainda mais importante, junto à Presidência da República, de tal forma que a divulgação do vídeo onde ele e o segundo acusado negociaram a propina e doações de campanha causou enorme repulsa por parte de toda sociedade. Ficou suficientemente comprovado que a negociata entre os réus visava interesses pessoais e também de políticos que seriam beneficiados com as tais 'doações', muito embora a renda da Loterj devesse ser destinada aos projetos de interesse social relacionados à segurança pública, à educação, ao desporto, à moradia e à seguridade social", disse a juíza em sua sentença.
Governo LulaWaldomiro Diniz foi subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República (2002-2004) e homem de confiança do então ministro da Casa Civil José Dirceu, durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Antes, tinha presidido a Loterj, autarquia do governo do Rio de Janeiro responsável pela administração do jogo no estado.
Ele foi acusado, em 2004, de comandar um esquema de cobrança de propina em 2002 quando era presidente da Loterj. Uma gravação, que teria sido encomendada por Carlinhos Cachoeira, empresário do ramos de jogos, e suspeito de envolvimento com o jogo do bicho, colocava Waldomiro no centro de negociações para arrecadar propina para campanhas eleitorais do PT.
Nas imagens, o ex-funcionário da Casa Civil apareceria discutindo valores com Cachoeira, na sala de uma de suas empresas no Rio. Após a divulgação do vídeo pela imprensa, Waldomiro deixou o governo. Foi a primeira crise do governo Lula durante o ano de 2004, culminando no pedido de demissão de José Dirceu.
Waldomiro é suspeito ainda de ter influenciado na renovação de contratos entre a Caixa Econômica Federal e a empresa que gerencia loterias federais GTech.

Entenda envolvimento de Cachoeira em escândalo no governo Lula

Gravação apontou elo entre empresário e Waldomiro Diniz, da Casa Civil.
Carlinhos Cachoeira foi preso nesta quarta em operação da Polícia Federal.

Waldomiro Diniz, ex-subchefe de gabinete da Casa Civil durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva, foi acusado, em 2004, de comandar um esquema de cobrança de propina quando era presidente da Loterj, estatal de loterias do estado do Rio de Janeiro, em 2002.
À época, era suspeito de negociar vantagens na renovação de contrato entre a Caixa Econômica Federal e a multinacional de processamentos de loteria GTech com o empresário do ramo de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso preventivamente nesta quarta-feira (29) sob acusação de comandar quadrilha de exploração de jogos com máquinas caça-níqueis.
Uma gravação, que teria sido encomendada pelo próprio Cachoeira, revelava o esquema e colocava Waldomiro no centro de negociações para arrecadação de propina para campanhas eleitorais do PT. Nas imagens, entregues pelo então senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) e reveladas em reportagem da revista "Época", o ex-funcionário da Casa Civil aparece discutindo valores com o bicheiro na sala de uma de suas empresas no Rio.
Carlinhos Cachoeira, segundo reportagem do "Jornal Nacional" de março de 2004, também aparece em gravação com o então subprocurador da República, José Roberto Santoro, que tentava convencê-lo a entregar as gravações para o Ministério Público. Na ocasião, ambos foram acusados por aliados de Lula de conspirar para derrubar o governo.
O caso Waldomiro Diniz foi o primeiro escândalo de corrupção do governo Lula e viria a gerar, em 2005, uma sucessão de acusações de arrecadação irregular de dinheiro de campanha.
Consequências
Em janeiro do ano passado, a 10ª Vara da Justiça Federal aceitou denúncia do Ministério Público Federal no DF contra Waldomiro Diniz e outras sete pessoas, entre elas Carlinhos Cachoeira, acusadas de tráfico de influência e corrupção durante as negociações para renovação do contrato entre a Caixa e a multinacional GTech, em 2003.
Na denúncia, o MPF afirma que Diniz "tinha por hábito cobrar propina e assim buscava nova fonte de recursos". Os envolvidos são acusados dos crimes de estelionato, corrupção ativa e passiva e concussão (exigir dinheiro ou vantagem em razão da função que ocupa).
Em 2009, Waldomiro Diniz foi condenado por improbidade administrativa na esfera cível, respondendo pelo mesmo caso. A Justiça determinou que ele pagasse cinco vezes o valor do salário que recebia na época das supostas irregularidades, em valores corrigidos, além de R$ 5 mil em honorários advocatícios.

Operação desarticula quadrilha que explora máquinas caça-níqueis
PF cumpre 82 mandatos judiciais a policiais militares, civis, rodoviários e a um servidor da Justiça estadual goiana
O Globo
Policiais federais em operação que cumpre 35 mandatos de
prisão por exploração de máquinas Caças-Níqueis


Foi deflagrada no início da manhã desta quarta-feira, 29, a Operação Monte Carlo, cujo objetivo é desarticular a organização que explora, há cerca de 17 anos, máquinas caça-níqueis em Goiás. Trata-se de uma ação em conjunto entre a Polícia Federal e o MPF-GO (Ministério Público Federal em Goiás), com apoio do Escritório de Inteligência da Receita Federal.

Ao todo, estão sendo cumpridos 82 mandados judiciais, dos quais 37 são de busca e apreensão, 35 de prisão e dez ordens de condução coerciva em cinco estados, entre eles Goiás, Distrito Federal (DF) e Rio de Janeiro (RJ). As ordens de prisão foram expedidas pelo juiz Paulo Augusto Moreira, da 11ª Vara Federal de Goiânia. São alvos da operação, além de pessoas relacionadas à exploração do jogo, servidores públicos, como policiais militares, civis, federais e rodoviários. Até o momento, foram cumpridos 31 prisões temporárias, 10 ordens de condução coercitiva, além de buscas e apreensões. Seis casas de jogos foram fechadas, duas em Goiânia e quatro em Valparaíso de Goiás (região do Entorno), tendo sido recolhidas cerca de 200 máquinas caça-níqueis. Conforme as investigações, somente um desses estabelecimentos arrecadou, em seis meses, R$ 3 milhões.

Estão inclusos entre os mandados de prisão já cumpridos o empresário Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira - considerado um dos maiores operadores de bingo de Goiás; o empresário e ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia, Wladmir Garcez;  seis delegados da Polícia Civil de Goiás (Aredes Correia Pires - corregedor-geral da Secretaria de Segurança Pública e Justiça -, Juracy José Pereira - delegado regional da PC em Luziânia -, Niteu Chaves Júnior - titular do 2° DP de Luziânia - , Marcelo Mauad - titular do 2° DP de Valparaíso -, José Luis Martins de Araújo - titular do 1° DP de Águas Lindas de Goiás -, e Hylo Marques Pereira - titular da Delegacia de Alexânia); dois delegados da PF lotados em Goiânia (Deuselino Valadares e Fernando Bayron); um capitão; um major; dois sargentos; três tenentes-coronéis (entre eles Sérgio Katayama, comandante do Comando do Policiamento da Capital); 18 soldados da PM goiana e quatro cabos. Também estão entre os servidores públicos envolvidos no esquema um policial rodoviário e um servidor da Justiça do Estado de Goiás. Eles recebiam propinas mensal e semanalmente para trabalharem para a organização criminosa.

Algumas identidades dos envolvidos ainda não foram oficialmente divulgadas, pois o processo segue em segredo de Justiça. Sobre seu suposto envolvimento, o coronel Sérgio Katayama declarou ao Jornal Opção que não sabe porque seu nome está sendo citado na lista dos envolvidos. Entretanto, ele entregou o cargo durante a tarde desta quarta-feira, para que as investigações corressem com a devida transparência. O sub-comandante do CPC, Márcio Gonçalves Queiroz, assumiu o cargo interinamente.

Segundo as investigações, iniciadas há 15 meses, existe uma forma de franquia para este tipo de crime, em que o chefe da quadrilha concedia licenças de exploração dos pontos para proprietários de galpões clandestinos sediados em Goiânia e Valparaíso de Goiás. Nesse contexto, policiais civis e militares realizavam o serviço de fechar locais que não possuíssem a autorização do chefe da quadrilha.

Carlinhos Cachoeira

Na capital goiana, o comando era liderado por Carlinhos Cachoeira, que devido ao seu forte poderio econômico, determinava a abertura e o fechamento de pontos de jogos em Goiânia. Ele foi preso em sua residência, no condomínio Alphaville em Goiânia, onde também foram apreendidos, além de computadores, joias e documentos, R$ 180 mil em espécie. Os policiais que executaram a prisão relataram que ele não esboçou nenhuma reação no momento e que se recusou a prestar depoimento, declarando que só falaria sobre as acusações em juízo. Cachoeira foi levado para a Superintendência da PF, em Brasília, e de lá deverá ser transferido para um presídio Federal de segurança máxima.

Cachoeira ficou conhecido nacionalmente em 2004, após ter divulgado um vídeo sobre o escândalo Waldomiro Diniz, então assessor da Casa Civil. De acordo com a PF, ele está sendo acusado de subornar servidores públicos, policiais e autoridades para garantir a livre exploração de caca-níqueis próprios e destruir eventuais concorrentes. "Ele é suspeito também de pagar a policiais para receber com antecedência informações sobre fiscalizações contra as casas de jogos ilegais", informam.
Operação Monte Carlo

Conforme o delegado da PF Matheus Rodrigues, que coordenou a operação, os envolvidos nunca tiveram se quer uma ação contra eles, por contarem com a conivência de policiais militares, civis, rodoviários e federais. "Os policiais eram pagos para que os criminosos pudessem fazer a exploração sem intervenção”, disse. Rodrigues ressaltou que em 2006  foi realizada uma tentativa de desarticulação da quadrilha, porém a informação vazou.

De acordo com o delegado, há registros de propina de R$ 200 a R$ 300 por dia paga a soldados, que também recebiam uma quantia para abastecerem as viaturas para fazerem a ronda. Já os delegados da PC recebiam cerca de R$ 4 mil mensais. Existia no esquema uma espécie de hierarquia, em que o valor da propina paga dependia do grau de influência do envolvido. Os procuradores Daniel Resende Salgado e Léa Batista de Oliveira, responsáveis pelo caso, acreditam que a organização estava em atividade há mais de uma década. Dessa forma, a infiltração de aliados de Cachoeira na administração pública teria sido um dos grandes obstáculos ao andamento das investigações.

Presos e indiciados responderão, na medida do envolvimento confirmado de cada um, por lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, corrupção ativa e passiva, violação de sigilo profissional, evasão de divisas e contravenção penal de exploração de jogo de azar.

Apesar da coincidência com o nome do principal acusado [Carlos Cachoeira], a escolha da denominação Monte Carlo para a operação diz respeito aos 11 bairros do principado de Mônaco que levam esse nome e que são conhecidos pela grande quantidade de cassinos.

OPERAÇÃO MONTE CARLO »Bicheiro comandava delegados e policiais


PF prende Carlinhos Cachoeira, acusado de comandar um esquema de exploração de máquinas caça-níquel e o jogo do bicho em Goiás e no Entorno. A quadrilha agia há 17 anos e contava com a participação de servidores públicos e agentes de segurança
Policiais chegam à superintendência da PF em Brasília com documentos apreendidos. Suspeitos podem ser indiciados por crimes como corrupção e formação de quadrilha (Breno Fortes/CB/D.A Press) Policiais chegam à superintendência da PF em Brasília com documentos apreendidos. Suspeitos podem ser indiciados por crimes como corrupção e formação de quadrilha
Uma ação da Polícia Federal realizada ontem em quatro estados e no Distrito Federal colocou fim a um esquema de corrupção e de exploração de caça-níqueis que tinha à frente Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Ele ficou conhecido em 2004, quando acusou o ex-subchefe da Casa Civil Waldomiro Diniz de ter recebido dinheiro quando o mesmo era dirigente da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj). O esquema, segundo a PF e o Ministério Público, já durava 17 anos e contava com a colaboração de policiais federais, civis e militares, além de outros servidores públicos. Dos 35 mandados de prisão expedidos pela Justiça de Goiás, 31 já haviam sido cumpridos até a noite, durante a Operação Monte Carlo — alusão a uma das localidades do Principado de Mônaco, onde existem dezenas de cassinos.
Conforme a PF, a investigação, que começou há 15 meses, detectou uma espécie de franquia de pontos liderada por Cachoeira, que liberava os locais, instalados em Goiás e no Entorno, para que fossem usados por outras pessoas na exploração de jogos de azar, inclusive jogo do bicho.
Policiais eram encarregados de fazer uma espécie de fiscalização, e quem não entrava no esquema tinha seus equipamentos recolhidos. Na apuração da PF e de procuradores da República, ficou constatada a participação de seis delegados, sendo dois da própria Polícia Federal, e seis civis. Além disso, havia 29 PMs, sendo três tenentes, um capitão, um major, dois sargentos, quatro cabos e 18 soldados. Um patrulheiro rodoviário federal, um funcionário administrativo da PF em Brasília e um funcionário da Justiça em Valparaíso de Goiás também estão entre os envolvidos.
“A organização funcionava havia 17 anos na região e nunca teve punição. O grupo usava os policiais para manter a jogatina”, conta o delegado Matheus Rodrigues, encarregado da investigação. “O esquema era sofisticado graças à leniência de autoridades de Goiás e de Brasília”, acrescenta o procurador da República em Goiânia Daniel de Resende Salgado. Os dois contaram que os policiais foram afastados de suas funções e alguns deles tiveram que comparecer à PF para prestar depoimento, mas não foram detidos.
Cada um dos membros da organização tinha uma tarefa, cabendo aos dois delegados federais vazar informações sobre ações da corporação em torno do combate aos jogos de azar. Outros delegados civis faziam operações para apreender máquinas caça-níqueis, mas entregavam o material para o esquema. Havia também um grupo responsável pela segurança dos locais indicados por Cachoeira.
O pagamento das propinas era pela função de cada policial dentro do esquema, segundo a PF e o MPF. Um soldado poderia ganhar R$ 200 por dia, além de combustível para a viatura que ele utiliza, enquanto que seu superior recebia uma quantia maior. Os delegados civis poderiam receber até R$ 4 mil mensais, também dependendo da atividade. Dinheiro para pagar a propina não era problema, segundo os investigadores, já que o movimento do esquema de Carlinhos Cachoeira era de pelo menos R$ 3 milhões mensais. Durante as apurações, a PF decidiu fazer buscas em alguns locais de forma planejada para evitar vazamentos e conseguiu recolher pelo menos 200 máquinas caça-níqueis. Durante as investigações, recolheu documentos contáveis, incluindo uma planilha de propina.
“Exagero” Cachoeira foi preso na manhã de ontem, em casa, em Goiânia, e não esboçou reação. Ele foi levado para a Superintendência da Polícia Federal em Brasília, local onde esteve outras vezes para depor no caso envolvendo Waldomiro Diniz. Ele chegou por volta das 15h, mas não quis prestar depoimento, decidindo falar apenas em juízo. Seu advogado, Ricardo Hasson Sayeg, afirmou que ontem mesmo iria impetrar um habeas corpus no Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região — o pedido não havia sido deferido até o fechamento desta edição — e considerou a Operação Monte Carlo exagerada. “Não havia violência, não tem máfia, não tem prostituição. Só tinha a questão de jogo, que é contravenção”, disse Sayeg, ressaltando que pode haver envolvimento político na prisão de seu cliente. “Está havendo o cumprimento antecipado da pena”, acrescenta o advogado, alegando que a ação pode ter sido “superdimensionada”.
Os envolvidos, dependendo do grau de participação no esquema, podem ser indiciados por corrupção ativa e passiva, facilitação de contrabando, contrabando, peculato, violação de sigilo, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. A Justiça Federal de Goiás expediu 35 mandados de prisão, e até a noite de ontem, 19 pessoas haviam sido detidas no Distrito Federal, nove em Goiânia, uma no Rio de Janeiro, uma em Tocantins e uma no Espírito Santo. Segundo os investigadores, por ter influência em diversos setores, Cachoeira poderá seguir para um presídio federal de segurança máxima, provavelmente em Campo Grande.
MEMÓRIA »Cobrança de propinaPublicação: 01/03/2012 02:00
 (Roberto Setton/Epoca/Reprodução)
O empresário Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, protagonizou o primeiro escândalo de corrupção do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Naquele episódio, manchou-se a imagem do PT, que, depois, viria a sofrer uma sucessão de acusações de arrecadação irregular de dinheiro de campanha — o principal deles, o mensalão, em 2005. Uma gravação (na foto, reprodução de trecho do vídeo) feita em 2002 pelo próprio bicheiro em uma de suas empresas no Rio e Janeiro revelou um esquema de cobrança de propina e favorecimento político. As imagens mostravam Waldomiro Diniz, na época presidente da Loterj, estatal de loterias do estado fluminense, no centro das negociações para arrecadação de propina para campanhas eleitorais do PT. Em troca, Waldomiro prometia ajudar na liberação dos bingos. Quando o vídeo foi divulgado, em 2004, Waldomiro era o braço direito do então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, no governo Lula. Cachoeira também apareceu em outra gravação, com o então subprocurador da República, José Roberto Santoro, na qual o subprocurador tentava convencê-lo a entregar a fita com Waldomiro para o Ministério Público. Na ocasião, ambos foram acusados por aliados de Lula de conspirar para derrubar o governo. Ação policial A PF começou a cumprir ontem
82 mandados judiciais, dos quais 37 referem-se a ordens de busca e apreensão 35 mandados eram de prisão preventiva, dos quais, até o início da noite de ontem, 31 haviam sido cumpridos
10 mandados referem-se a conduções coercitivas, quando a pessoa é encaminhada para prestar depoimento

Carlos Cachoeira nomeava no governo Marconi Perillo

Carlos Cachoeira nomeava no governo Marconi Perillo

GOIÁS VIVE DIAS DE GRANDE APREENSÃO. O MOTIVO É A PRISÃO DO BICHEIRO CARLINHOS CACHOEIRA, QUE TERIA POLÍTICOS, EMPRESÁRIOS, POLICIAIS E JORNALISTAS NA FOLHA DE PAGAMENTO; SEGUNDO JUIZ, ELE NOMEOU DEZENAS DE PESSOAS NO GOVERNO GOIANO E MANCHETE OFICIALISTA DO DIÁRIO DA MANHÃ JÁ REVELA PREOCUPAÇÃO; 24 HORAS DEPOIS, GOVERNADOR PERILLO PERMANECE CALADO


247 – O governador de Goiás, Marconi Perillo é, sabidamente, um dos maiores desafetos do PT. Em 2005, ele tentou envolver o presidente Lula no escândalo do Mensalão, ao dizer que tinha feito a ele um alerta. Sete anos depois, Perillo vive dias de grande apreensão. O motivo é a prisão do bicheiro Carlinhos Cachoeira, responsável pelo primeiro grande escândalo da era Lula – o pedido de propina feito por Waldomiro Diniz, ex-assessor de José Dirceu, que resultou numa condenação a 12 anos de prisão. Isso porque, ao que tudo indica, Cachoeira, responsável pela máfia dos caça-níqueis, gestada a partir de Goiás, tinha grande influência sobre a área de segurança pública do governador Perillo – um nome que vem sendo lembrado, especialmente por José Serra, como um potencial presidenciável do PSDB para 2014.
Na decisão, o juiz responsável pela décima-primeira Vara da Justiça Criminal de Goiás, responsável pela prisão de Cachoeira, escreve:
“Ao lado de 38 pessoas não vinculadas diretamente ao poder público, foram identificados 43 agentes públicos, distribuídos entre 06 delegados de polícia civil, 30 policiais militares, 02 delegados de polícia federal, 01 servidor administrativo de polícia federal, 01 policial rodoviário federal ... envolvidos diretamente com a organização criminosa, a maior parte deles na sua ordinária folha de pagamentos”.
Mais adiante, o juiz, que também apontou as relações da quadrilha com jornalistas, foi ainda mais preciso no tocante às relações de Cachoeira com o governo Perillo:
“... a partir do monitoramento do terminal utilizado por Carlos Cachoeira, foram identificados laços estreitos com políticos e empresários. Além disso, descobriu-se a influência de Carlos Cachoeira na nomeação de dezenas de pessoas para ocupar funções públicas no Estado de Goiás”.
Hoje cedo, o jornal Diário da Manhã, um dos principais de Goiás, saiu com uma manchete reveladora – e que já busca um álibi para os políticos locais. “Procurador da República isenta políticos”, diz o jornal.
Será que são todos inocentes?

Polícia Federal prende 35 pessoas em operação Monte Carlo

Escutas mostraram ligação entre máfia dos caça-níqueis e políticos

Preso PF

Agentes da PF chegam com o material apreendido e as pessoas detidas na sede da PF em Brasília

Cachoeira foi pivô do primeiro escândalo do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, causado com a divulgação de um vídeo em que o subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz, negociava propina com o bicheiro em troca de apoio à aprovação de projetos de legalização de jogos. Diniz era homem de confiança do ministro mais poderoso do governo, José Dirceu, caçado por envolvimento no escândalo do Mensalão. O assessor foi afastado e anos depois condenado por corrupção.

A Polícia Federal prendeu nesta quarta-feria (29), na Operação Monte Carlo, o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira e mais 34 envolvidos em um grande esquema de jogo do bicho e de exploração de máquinas caça-níqueis em quatro Estados e no Distrito Federal. Entre os presos estão dois delegados da PF, seis delegados da Polícia Civil e cinco oficiais da Polícia Militar de Goiás, além de soldados, agentes e servidores públicos, um deles do Poder Judiciário.


Maior bicheiro do Centro-Oeste, Cachoeira é também um notório financiador de campanhas. Há 17 anos ele age impune e expande os negócios na região. O bicheiro foi preso em sua casa, em Goiânia, por volta das 6h e não ofereceu resistência. Seu advogado, Ricardo Sayeg, considerou a prisão "abusiva" e a operação "superdimensionada". Nesta quarta mesmo, ele entrou com pedido de habeas corpus.
- O ato de que ele é acusado é mera contravenção, coisa para juizado de pequenas causas e sequer dá detenção.
Durante as investigações, a polícia e o Ministério Público captaram diálogos e flagraram contatos de Cachoeira e membros da organização com políticos. Mas como eles têm prerrogativa de foro especial, não foram investigados. Um deles seria alto assessor do governo federal, disse o procurador da República Daniel Resende Salgado. 
- Não sabemos se há ou não crime nesses contatos, por isso enviamos os dados para a Procuradoria Geral da República decidir se manda prosseguir as investigações.
Conforme a investigação, policiais e militares recebiam propinas regulares - semanais e mensais - para dar proteção aos exploradores da jogatina, vazar informações sobre ações repressivas e despistar as fiscalizações. O valor da propina variava conforme a patente do militar ou a função do policial. As maiores fatias iam para os delegados, que recebiam até R$ 4.000 mensais e oficiais. Um soldado ganhava entre R$ 180 e R$ 200 por dia de serviço para a organização. Já um sargento recebia diárias de R$ 300.
Durante a operação foram fechadas seis casas de jogatina, sendo quatro em Valparaíso (GO) e duas em Goiânia. A contabilidade da organização ainda será analisada, mas já se sabe que em apenas uma das casas fechadas foram movimentados R$ 3 milhões em seis meses. Nos moldes de uma rede fast food, Cachoeira vendia "franquias" a empresários interessados no negócio. A polícia estima que mais de 200 casas com máquinas caça-níqueis funcionavam nos cinco estados.
Os principais crimes atribuídos ao grupo são corrupção ativa e passiva, contrabando, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, peculato, violação de sigilo e formação de quadrilha. O delito mais brando é o de exploração de jogo de azar.
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Carlinhos Cachoeira comandava esquema de jogos de azar, diz PF