Tal Golesworthy: Como consertei meu coração
Especializado em manutenção de caldeiras -- ele sabe tudo sobre encanamentos e bombeamentos. Quando ele precisou de uma cirurgia para consertar um problema em sua aorta que ameaçava sua vida, ele juntou suas habilidades em engenharia com seu conhecimentos médicos para projetar um trabalho de reparo mais eficaz.
O Entropia traz uma história interessante envolvendo um engenheiro de processos especializado em caldeiras, que soube valorizar a multidisciplinaridade para propor uma solução inovadora para curar um sério problema de saúde que ele tinha no coração.
As vezes os estudiosos focam na especialização de um tema e esquecem que a natureza é uma só. As vezes a resposta para um problema de uma área de conhecimento pode estar em outra área. Neste caso a solução de um caso médico encontrou na engenharia suas respostas, tratando de veias e coração como dutos e bombas.
O problema de Tal Golesworthy, fazia com que sua artéria aorta tivesse um diâmetro cada vez mais elevado. Tradicionalmente o procedimento era resolvido através de um cirurgia muito invasiva e perigosa, na qual a aorta seria retirada e substituída por uma prótese plástica e uma válvula artificial, sendo necessário o tratamento com uma agressiva droga para o resto da vida.
O engenheiro, não contente com a solução, montou uma equipe multidisciplinar e procurou investimentos para obter outra solução. A equipe utilizando conhecimentos de diversas áreas, principalmente de engenharia, desenvolveu uma "capa" no formato exato da artéria do paciente, a qual era utilizada para embrulhar a artéria da mesma forma que se envolve uma tubulação com fita quando esta necessita de reparo. De fato, a solução saiu da teoria e curou Tal Golesworth através de uma cirurgia mais simples e que não necessitava da prescrição de drogas para acompanhamento.
Este é um caso que mostra claramente a importância de estarmos atentos a todas áreas de conhecimento, buscando soluções para os problemas independentemente da nossa área de formação e do ego profissional. Multidisciplinaridade é um excelente caminho para propor soluções inovadoras e solucionar problemas.
O vídeo mostra uma palestra do engenheiro explicando com mais detalhes sobre o projeto e como uma equipe multidisciplinar deixou o ego profissional de lado para buscar a melhor solução. Vale a pena ser assistido!
Clique no Link abaixo e veja com tradução em Português:
O engenheiro que curou seu próprio coração
Eu sou um engenheiro mecânico Eu sei tudo sobre caldeiras e incineradores, filtros de fábricas, ciclones e coisas do tipo, mas também tenho síndrome de Marfan. Essa é uma doença hereditária. E em 1992 eu participei de um estudo genético e descobri, para meu espanto, como vocês podem ver no slide, que minha aorta ascendente não tinha o calibre normal, não estava nessa linha verde no final do gráfico Todos aqui devem ter entre 3.2 e 3.6 cm. Eu já estava com 4.4. E como podem ver, minha aorta dilatava progressivamente,e eu chegava cada vez mais perto de precisar de uma cirurgia.
A cirurgia que eu faria é bem horrível eles te anestesiam, abrem seu peito, te ligam numa máquina com coração e pulmões artificiais baixam a temperatura do seu corpo para uns 18 centígrados, param seu coração, cortam fora a aorta e a substituem por uma válvula plástica e uma aorta plástica e, mais importante, te obrigam a uma terapia anticoagulante para o resto da vida, normalmente com varfarina A ideia da cirurgia não me era atrativa. A ideia da varfarina era realmente assustadora.
Então eu disse a mim mesmo, sou engenheiro, em P & D, e isso é só um problema com encanamentos. Eu posso fazer isso. Eu posso mudar isso. Então decidi mudar todo o tratamento para a dilatação da aorta. O objetivo do projeto é bem simples. O único problema com a aorta ascendente nas pessoas com Síndrome de Marfan é que falta à ela alguma força tênsil. Então existe a possibilidade de simplesmente embrulhar externamente o cano. E ele permaneceria estável e operando normalmente. Se o cano da sua mangueira de alta pressão ou se sua linha hidráulica de alta pressão inchar um pouco, basta que você a envolva com uma fita. O conceito é simples assim, já a execução, nem tanto. A grande vantagem de um suporte externo para mim é que eu ficaria com todos os meus pedaços, todo o meu endotélio e minhas válvulas, e não precisaria de nenhuma terapia anticoagulante.
Então por onde começamos? Bem, esse é um corte longitudinal de mim. Vocês podem ver no meio o aparelho, aquela pequena estrutura, comprimindo. Agora, esse é o ventríloquo esquerdo empurrando o sangue através da válvula aórtica -- vocês podem ver dois folículos da válvula aórtica trabalhando aqui -- para dentro da aorta ascendente. E é essa parte, a aorta ascendente que dilata e finalmente estoura, o que é fatal, é claro.Começamos por organizar a aquisição de imagens das máquinas de ressonância magnética e das máquinas de CT das quais faríamos um modelo da aorta do paciente.
Este é o modelo da minha aorta. Eu tenho um de verdade no meu bolso, se alguém quiser pode pegar e manuseá-lo. Como vocês podem ver, é uma estrutura bem complexa. e tem uma forma trilobal engraçada no final, que contém a válvula aórtica. Ela então continua numa forma redonda e então se conifica e se curva para fora. É, portanto, uma estrutura bem complexa para produzir. Esse, como disse, é um modelo CAD de mim, e esse é um dos últimos modelos CAD. Começamos um processo interativo na produção de modelos cada vez melhores. Quando produzimos esse modelo nós o transformamos em um modelo de plástico sólido, como vocês podem ver, usando uma técnica de prototipagem rápida, outra técnica da engenharia. Depois, usamos esse molde para fabricar uma malha têxtil porosa customizada perfeitamente, que toma a forma do molde e se encaixa perfeitamente na aorta. Isso é medicina totalmente personalizada ao máximo. Todos pacientes que tratamos tem um implante completamente personalizado.
Uma vez que o fizemos, a instalação é bem fácil. John Pepper, Deus abençõe seu coração, professor de cirurgia cardiotorácica -- nunca havia feito isso antes em sua vida --ele colocou o primeiro, não gostou, tirou, colocou o segundo. Feliz, eu fui embora. Quatro horas e meia na mesa e tudo estava feito. A implantação cirúrgica foi, na verdade, a parte fácil.
Se compararmos o nosso novo tratamento com a alternativa existente, o chamado enxerto composto na base da aorta, uma das duas surpreendentes comparações, tenho certeza que ficará clara para todos vocês. Duas horas para instalar um de nossos dispositivoscomparada a seis horas para o tratamento existente. O tratamento existente requer, como eu disse, a máquina coração-pulmão e requer um resfriamento total do corpo. Não precisamos de nada disso, trabalhamos com o coração batendo. Ele te corta, acessa sua aorta enquanto seu coração está batendo, tudo com a temperatura alta. Sem quebrar seu sistema circulatório. É realmente muito bom.
Mas, pra mim, o melhor de tudo é que não é preciso nenhuma terapia anticoagulante. Não tomo nenhuma droga além das recreativas que eu posso escolher tomar. (Risos) E, na verdade, se você falar com pessoas que precisam da varfarina, a qualidade de vida delas fica seriamente comprometida. E o pior, ela inevitavelmente encurta a vida. Do mesmo jeito, se você tiver a opção da válvula artificial você está comprometido com uma tratamento de antibióticos sempre que precisar de qualquer tratamento médico invasivo.Até mesmo, idas ao dentista vão te fazer tomar antibióticos, para evitar que você pegue uma infecção interna na válvula. Novamente, eu não tenho nada disso, estou totalmente livre. Minha aorta foi reparada, eu não preciso me preocupar com isso, o que é um renascimento para mim.
De volta ao tema da apresentação: Na pesquisa multidisciplinar, como poderia um engenheiro mecânico acostumado a trabalhar com caldeiras acabar produzindo um dispositivo médico que mudou sua própria vida? Bom, a resposta para a questão é um time multidisciplinar. Esta é a lista do time nuclear. E como vocês podem ver, não há apenas duas principais disciplinas técnicas, medicina e engenharia, mas também vários especialistas dentro dessas disciplinas John Pepper foi o cirurgião cardíaco que fez o verdadeiro trabalho em mim, mas todos os outros contribuíram de uma maneira ou de outra. Raada Mohiaddin, médico-radiologista Precisavamos conseguir imagens de boa qualidade das quais faríamos o modelo CAD. Warren Thornton, que ainda faz os modelos CAD pra gente, teve que escrever um código CAD personalizado para produzir esse modelo a partir da difícil inserção desse conjunto de informações.
Há algumas barreiras a esse pensamento. Há alguns problemas com ele. Jargão é um dos grandes. Eu penso que ninguém aqui entende aqueles quatro primeiros jargões. Os engenheiros entre vocês reconhecerão a prototipagem rápida e o CAD. Os médicos entre vocês, se houver algum, reconhecerão os dois primeiros. Mas, não haverá mais ninguém aqui que entenderá todos os quatro. Retirar o jargão foi muito importante para assegurar que todos na equipe entendessem exatamente o que significava quando uma frase em particular era usada.
Nossas convenções particulares também eram bem engraçadas. Tiramos um monte de imagens de corte horizontal da minha aorta, produzimos esses pedaços e depois os usamos para construir um molde CAD. E o primeiro modelo CAD que fizemos, os cirurgiões estavam brincando com o modelo de plástico, não conseguiam entendê-lo. Até que descobrimos que era, na verdade, uma imagem espelhada da verdadeira aorta. E foi uma imagem espelhada porque no mundo real, sempre olhamos para baixo para ver as plantas, plantas de casas, ruas ou mapas. No mundo médico, eles olham para cima para as plantas. Assim, as imagens horizontais eram todas inversões. Por isso precisamos ter cuidado com convenções disciplinares. Todos precisam entender o que é presumido e o que não é.
As barreiras institucionais foram outra séria dor de cabeça para o projeto. O Hospital Brompton passou a ser controlado pela faculdade de medicina do Imperial College e há alguns problemas bem sérios de relacionamento entre as duas organizações. Eu estava trabalhando com o Imperial e o Brompton, e isso gerou alguns problemas sérios com o projeto, problemas que não deviam existir.
Comitês de pesquisa e ética: se vocês querem fazer algo novo em cirurgia, precisam de uma licença dos comitês locais de pesquisa e ética. Tenho certeza que o mesmo acontece na Polônia. Deve haver algum tipo equivalente que permite novos tipos de cirurgia. Não apenas tivemos o problema burocrático associado a isso, mas também as invejas profissionais. Haviam pessoas nos comites de ética e pesquisa que realmente não queriam ver John Pepper ter êxito novamente, porque ele já é tão bem-sucedido. E eles arrumaram uns problemas extras pra gente.
Problemas burocráticos: Hoje em dia, quando você tem um novo tratamento você precisa emitir uma nota de orientação para todos os hospitais do país. No Reino Unido, temos o Instuto Nacional para a Excelência Clinica, NICE. Deve haver um equivalente na Polônia, com certeza. Temos que passar pelo problema NICE Agora temos um ótimo guia clínico disponível na Net. Assim, qualquer hospital interessado pode vir, ler o relatório NICEentrar em contato conosco e então realizar o procedimento
Barreiras de financiamento: Outra grande área de preocupação um grande problema no entendimento de uma das perspectivas: Quando nos dirigimos pela primeira vez a uma das grandes organizaçoes beneficentes do UK que financia esse tipo de coisa, o que eles estavam olhando era essencialmente uma proposta de engenharia. Eles não entenderam, eles eram médicos, quase deuses. Deve ser bobabem. Eles engavetaram o pedido. No fim, eu precisei pedir a investidores privados. e acabei cedendo a isso. Mas, muitos P & D serão financiados institucionalmente, pela Academia de Ciências Polonesa ou o Conselho de Pesquisa Científica em Engenharia e Medicina ou qualquer coisa do tipo,vocês precisam passar por essas pessoas.
Jargão é um grande problema quando tentamos trabalhar multidisciplinarmente, porque no mundo da engenharia, todos entendemos CAD e R.P. -- mas não no mundo médico.Suponho que ultimamente os burocratas do financiamento realmente precisam trabalhar juntos. Eles precisam começar a falar uns com os outros, e exercitar um pouco de imaginação, se isso não for pedir muito -- o que provavelmente é.
Eu cunhei a frase "conservantismo obstrutivo." Muita gente no mundo médico não quer mudanças, muito menos quando um engenheiro proeminente achou a resposta. Eles não querem mudança. Eles querem simplesmente fazer o que quer que tenham feito antes. E, na verdade, há muitos cirugiões no Reino Unido. esperando que um de nossos pacientestenham qualquer tipo de problema, para que eles possam dizer: "Eu te disse que isso não era bom." Nós temos na verdade 30 pacientes. Eu estou com sete anos e meio. E temos mais de 90 anos de pós operatórios de pacientes entre nós, e até agora, não tivemos um único problema. E ainda, há gente no Reino Unido dizendo, "É aquela base aórtica externa, é, ela nunca vai funcionar, sabe."
É realmente um problema. É realmente um problema. Estou certo de que muitos aqui já se depararam com a arrogância dos médicos, doutores, cirurgiões em algum momento. A questão central é simples a maneira como os médicos se protegem. "Sim, é claro, estou preocupado com meu paciente." Acho que não é suficiente, mas, veja você, é a minha opinião.
Ego, é claro, é um grande problema. Se você está trabalhando com uma equipe multidisciplinar, você tem que dar aos seus colegas o benefício da dúvida. Você deve apoiá-los. Tom Treasure, professor de cirurgia cardiotorácica: um cara incrível. Facilmente respeito ele. Ele me respeitar? Muito diferente. Essas são as más notícias A boa notícia é que os benefícios são impressionantes. Traduz isso. Aposto que eles não podem.
Quando você tem um grupo de pessoas que tiveram treinamento profissional diverso, uma experiência profissional diversa, eles não apenas têm a base do conhecimento diferente,mas eles possuem diferentes perspectivas em tudo. E se você consegue juntar essas pessoas e você consegue fazê-las conversar e compreender umas às outras, os resultados podem ser espetaculares. Você pode achar soluções originais, realmente originais, que nunca foram pensadas antes muito muito rápido e facilmente. Você pode eliminar muito trabalho simplesmente usando o conhecimento de base extendido que tem. E o resultado, é um uso completamente diferente da tecnologia e do conhecimento ao seu redor.
O resultado disso tudo é que você pode conseguir avançar incrivelmente rápido com orçamentos incrivelmente pequenos. Estou tão envergonhado do quão barato foi chegar da minha ideia até o meu implante que não estou preparado para lhes dizer o quanto custou. Porque suspeito que há tratamentos cirúrgicos totalmente padronizadosprovavelmente nos EUA que custam mais para um paciente único do que o custo que tivemos para realizar o meu sonho.
No comments:
Post a Comment