Wednesday, May 16, 2012

DINHEIRO GANHA JOGO?


As maiores folhas de pagamento e os resultados nos gramados

Folha de pagamento ganha campeonatos?

Um trabalho já famoso entre o pessoal que gosta de futebol e economia mostrou uma estreita relação entre o valor da folha de pagamentos e os resultados nos gramados… ingleses. Refiro-me ao estudo feito por Simon Kuper e Stefan Szymanski, autores do livro “Soccernomics” e de inúmeros outros estudos abordando o nobre espore bretão que consagrou Jean-Marc Bosman (se bem que não pela bola que ele jogava). Em resumo, os autores analisaram dez temporadas da antiga Liga Inglesa (90/91 e 91/92)e Premier League (1992 a 1999), e concluíram que, considerando um período mais dilatado, os clubes que detinham as maiores folhas de pagamento eram os que mais vezes ganhavam ou faziam parte do grupo de ponteiros da competição.
Ora, mas isso é óbvio, já escuto daqui seu pensamento em voz alta, prezado leitor-torcedor ou torcedor-leitor. Sim, é mesmo meio óbvio, mas ganha um tom diferente quando vemos números embasando a obviedade. Até porque o futebol é rico em surpresas e de repente um time bem montado, de custo não muito elevado pode vencer uma ou mais de uma competição e mascarar a obviedade da realidade.
Não custa repetir, até torcendo para que seja verdadeiro mais vezes, dando mais sabor e graça ao prazer de torcer: Felizmente, o futebol é rico em surpresas e o pequeno bate o grande, o pobre vence o rico e um conjunto meio barato pode ir longe,deixando muita gente boa e rica para trás.
As maiores folhas de pagamento do Brasil
Três clubes se destacam no cenário nacional de imediato, ao olharmos o tamanho – ou o valor – de suas folhas: Corinthians, Internacional e São Paulo. Os três fecharam 2011 contabilizando gastos que praticamente ou quase bateram na casa de 100 milhões de reais, algo como 43,5 milhões de euros ao câmbio médio de 2011 ou 39 milhões pelo câmbio dessa segunda-feira maravilhosamente chuvosa, espantando o começo da seca (que promete ser braba) um pouco mais para a frente.
Se pensarmos na competição-base do nosso futebol, o Campeonato Brasileiro da Série A – o Corinthians atingiu o que se esperava, teoricamente, dele: foi o primeiro colocado na competição. O Internacional esteve muito perto de soçobrar, ao conseguir ficar em quinto lugar e assegurar o direito de disputar a participação na Copa Santander Libertadores de 2012. O terceiro membro desse grupo ainda pequeno, o São Paulo, naufragou fragorosamente, conseguindo apenas uma sexta colocação no Brasileiro, insuficiente para levá-lo à disputa da principal copa continental.
O vice-campeão brasileiro foi um time de custo relativamente baixo, o Vasco da Gama, cujo elenco custou menos da metade dos elencos de Internacional e São Paulo. Vamos à tabela:
Um alerta: essa tabela é pouco precisa. Porque eu talvez tenha errado no levantamento? Não, amigo torcedor-leitor, se bem que isso até pode acontecer, mas sim porque os balanços de nossos clubes, com honrosas exceções, são paupérrimos em informações detalhadas. Por isso mesmo, acrescentei as despesas totais com o futebol, conforme descritas pelos clubes. Essas despesas incluem, entre outras, os gastos com aquisições e empréstimos de atletas, despesas de viagem e estadia, etc. De maneira geral elas acompanham o posicionamento dos clubes em relação às folhas de pagamento.
A penúltima coluna mostra a ordem de classificação desses 13 clubes no Brasileiro 2011. Começando pelo campeão, o Corinthians, que está com a grafia na cor preta, indicando que sua posição no campeonato corresponde à sua posição no ranking das folhas de pagamento, estando, portanto, de acordo com a premissa do trabalho de Kuper e Szymanscki. Cinco clubes, marcados em azul, estão em melhor posição na classificação final do campeonato do que no ranking de folhas de pagamento. E nada menos que sete clubes, mais da metade, estão em vermelho nessa ordem, indicando que suas posições na nossa principal competição ficaram abaixo de suas posições no ranking de salários. Nosso futebol é, ainda, mais rebelde a certas normas escritas e não escritas que o futebol europeu.
O extinto G14 , que reunia os 14 maiores clubes europeus, recomendava a seus associados que a folha de pagamento do futebol deveria ser mantida entre 55% e 70% do valor obtido com as receitas operacionais. Segundo a associação, dentro desses parâmetros um clube seria capaz de montar e manter uma equipe competitiva e ao mesmo tempo manter-se de forma sustentável, sem comprometer as finanças. Naturalmente, como medidas complementares, o ideal era que aquisições de direitos federativos se dessem com receitas oriundas da mesma área, sem provocar impacto sobre as finanças do futebol, ao lado, é claro, da formação de novos atletas.
Como a estrutura de receitas de nossos clubes é bem variada, com algumas áreas fora do futebol tendo peso razoável sobre a receita, a aplicação dessa regra é um pouco prejudicada. Mesmo assim, dos 13 clubes seis estão acima do limite de 70%: Palmeiras, Grêmio, Cruzeiro, Coritiba, Fluminense e Botafogo. Outros quatro: Corinthians, Flamengo, Vasco e Atlético Mineiro, estão abaixo.
Em suma, dinheiro é importante, sem a menor dúvida, mas, ao menos por enquanto, não é tudo.

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