Há 64 anos, o Brasil se preparava para receber uma Copa do Mundo em casa. A responsabilidade era grande, e a expectativa dos brasileiros maior ainda. Isso porque o favorito do mundo – aquele país referência para todos no planeta quando o assunto era futebol – não era o Brasil, mas o Uruguai, país que primeiro organizou o torneio. A Copa estava apenas em sua quarta edição, e o Brasil carregava nas costas o peso de promover o campeonato depois de 12 anos, durante os quais ele não foi realizado por causa da Segunda Guerra Mundial.
A Copa do Mundo da metade do século 20 era, no entanto, muito diferente da que conhecemos hoje. Apenas 13 países participaram do evento, sendo que diversos desistiram de enviar suas delegações, a exemplo de Escócia, França, Turquia e Índia. A segurança nos estádios também era muito mais precária, por isso estima-se que cerca de 220 mil pessoas assistiram à final entre Brasil e Uruguai (embora apenas 173.850 tenham sido registrados como pagantes, pois o restante das pessoas entrou após o arrombamento dos portões do Maracanã).
No campo dos uniformes, ainda, a edição no Brasil foi a primeira em que os times usaram números nas camisas dos jogadores. Foi a última vez também que a seleção brasileira foi representada pelo uniforme branco com detalhes azuis. Na Copa do Mundo seguinte, na Suíça, o time estreou a famosa camisa amarela e verde com o calção azul e branco, roupa que lhe renderia mais tarde o apelido de seleção canarinho.
Mas se o torneio evoluiu muito nessas seis décadas, o Brasil amadureceu ainda mais, a ponto de parecer um país diferente aos olhos estrangeiros. A população cresceu de 51,9 milhões para estimados 195 milhões em 2014, sendo que hoje mais de 85% dessas pessoas habitam em cidades (mais da metade dos brasileiros ainda morava em áreas rurais). O crescimento demográfico acompanhou a melhoria da qualidade de vida e da saúde do brasileiro. Na última vez que recebemos a Copa do Mundo, a expectativa de vida girava em torno dos 43 anos, e hoje está em 74 anos, nível equiparável ao de países desenvolvidos. Na educação, o país alcançou a universalização do ensino, estabelecendo o acesso a todas as crianças em idade escolar. Nesse mesmo período, a alfabetização, que girava em torno de apenas 40% da população, hoje praticamente chegou a todos os brasileiros (92,1%).
A nação cresceu em diversas frentes, em especial a econômica. Em 50, se destacava principalmente pela exportação do café e registrava um PIB de 93,2 bilhões de dólares. Hoje, com um PIB que ultrapassa os 2,48 trilhões de dólares, o Brasil é a sexta maior economia do mundo, e passou a exportar principalmente matéria-prima (minérios, petróleo, combustíveis, material de transporte, produtos metalúrgicos e químicos), além de café, açúcar, carne e soja. Com isso, o PIB per capita aumentou oito vezes, de 1,6 mil para 12 mil dólares.
Junto à economia, cresceu a infraestrutura energética: se na metade do século 20 o Brasil produzia apenas 1,9 mil megawatts, hoje possui uma capacidade energética de 129.166 megawatts. Essa expansão veio acompanhada de uma série de cuidados com a eficiência energética. Hoje, o país caminha com o desafio diário de promover o desenvolvimento e proteger seus recursos de maneira sustentável – preocupação que praticamente não existia no mundo naquela época.
No campo do futebol, passamos de país sem títulos em 1950 para o único pentacampeão mundial. O esporte se fortaleceu tanto no aspecto de identidade cultural brasileira quanto de profissionalismo. Hoje, o Brasil possui tantos jogadores talentosos que uma média de 1000 deles é vendido por ano para atuar em times no exterior.
Com tantas luzes voltadas para o Brasil, a responsabilidade de organizar a Copa do Mundo é ainda maior do que foi em 1950. Não serão mais apenas 200 televisores ligados nos jogos, mas 54 milhões (apenas nacionalmente). E se o Brasil da metade do século passado foi capaz de realizar um torneio tão bonito com recursos tão escassos, a festa de 2014 fará jus ao tanto que progredimos em todas essas décadas – em esportes, infraestrutura, turismo, energia, saúde, comércio, transportes. Mas, acima de tudo, será um espetáculo e uma lição ao mundo sobre o que é a paixão pelo futebol.
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